Erva-mate: o Ouro verde do Sul que ganha o mundo

Por Agricon Business | Novembro de 2025

A erva-mate é um elemento essencial na cultura Brasileira, principalmente para a região Sul. Mas o que muitos produtores talvez ainda não saibam é que a erva-mate (Ilex paraguariensis) também tem se transformado em um produto de exportação com grande potencial, principalmente com o surpreendente crescimento da demanda asiática nos últimos tempos.

Além de representar uma tradição que não só centenária, mas milenar, com origens que remontam a povos indígenas sul-americanos, muito antes da chegada dos colonizadores europeus, a erva-mate é hoje uma excelente opção de diversificação de renda para o produtor rural.

Historicamente, a erva-mate foi utilizada como bebida de convivência social e como fonte de energia física e mental. Durante o século XIX, chegou a ser chamada de “ouro verde” devido à sua importância econômica para o sul do Brasil e o norte da Argentina. Com o passar do tempo, a erva-mate deixou de ser apenas um símbolo regional e começou a ser incorporada em novos produtos industriais, como: chás prontos e solúveis, suplementos energéticos, cosméticos naturais devido às propriedades antioxidantes, cervejas e destilados artesanais com aroma de mate, além de extratos funcionais com forte apelo à saúde usados na indústria alimentícia e farmacêutica.

O Brasil é o maior produtor de erva-mate não só na América do Sul, mas no mundo, com destaque para os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Hoje se trata do principal produto não madeireiro do agronegócio florestal da região Sul do país. A produção de erva-mate é uma cultura agrícola que combina sustentabilidade e economia regional.  

Segundo a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -, a Erva-Mate é explorada em cerca de 486 municípios nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, abrangendo 180 mil propriedades rurais, principalmente em sistemas agroflorestais. O Paraná lidera a produção nacional, segundo a Produção Agrícola Municipal (PAM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seguido pelo Rio Grande do Sul. 

Diferente de culturas anuais como milho ou soja, a erva-mate é perene, ou seja, produz por décadas. Uma vez estabelecido o erval, não é preciso replantar todos os anos, apenas realizar podas periódicas para estimular o rebrote e manter a planta produtiva. Em média, a colheita pode ser feita de 3 a 4 vezes por ano, dependendo das condições climáticas e do manejo. Segundo a Embrapa Florestas, um erval bem conduzido pode ter vida útil superior a 20 anos, o que reduz os custos de replantio e garante retornos contínuos. Podendo essa ser cultivada em áreas pequenas ou consorciada com outras espécies, o que a torna viável tanto para agricultura familiar quanto para médios produtores que buscam novas fontes de receita e estabilidade ao longo do ano. As folhas e ramos são colhidos, secos e moídos, passando por processos de sapeco, secagem e moagem. O cultivo pode ser feito de forma nativa ou plantada. 

Uma das inovações mais promissoras para o setor ervateiro é o sistema Cevad Campo, desenvolvido pela Embrapa Florestas em parceria com a UFPR – Universidade Federal do Paraná. Esse novo modelo de cultivo tem mostrado resultados surpreendentes, com potencial para aumentar em até 160% a produtividade nos primeiros quatro anos de implantação. Enquanto o sistema tradicional utiliza entre 1.900 e 2.800 plantas por hectare, o Cevad Campo adota o superadensamento, com mais de 25 mil plantas por hectare. Essa configuração permite maior eficiência no processo, com colheitas mais frequentes, e incidência de maiores proporções de folhas novas (valorizadas no mercado), e melhor aproveitamento da área plantada.

De acordo com os pesquisadores Ivar Wendling e Mônica Gabira, que são as autoridades no assunto, o sistema também se diferencia por utilizar maior quantidade de nitrogênio no manejo, resultando em incremento de até 86% na produtividade total de folhas. Além disso, o tempo entre as colheitas cai de 18 a 24 meses, do método tradicional, para apenas 3 a 5 meses, o que representa uma redução média de 80% no ciclo da cultura. 

Mercado externo da erva-mate: crescimento e novos destinos

O mercado global de erva-mate cresce de forma consistente. Estima-se que o setor movimente bilhões de dólares anualmente, impulsionado pela demanda por bebidas naturais e energéticas. O Brasil responde por cerca de 60% da produção mundial, mas ainda exporta menos do que poderia, o que revela um enorme potencial de expansão internacional a se explorar. A valorização de produtos sustentáveis e com identidade de origem, como indicações geográficas e certificações orgânicas, está cada vez mais em contraste e fortalece ainda mais a competitividade da erva-mate brasileira.

Os dados mais recentes da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi-RS), publicados no Informativo Roda de Mate nº 92, mostram que o Brasil exportou 4,45 milhões kg de erva-mate em abril de 2024, com faturamento de US$ 9,66 milhões, resultando em uma média de US$ 2,17 por kg de produto exportado. 

O Uruguai continua sendo o principal comprador, absorvendo quase 66% do volume total exportado. Em abril de 2025, o país importou 2,44 milhões kg, movimentando um montante de US$ 4,96 milhões. Países europeus como França, Bélgica e Bulgária também aumentaram suas compras, enquanto China, Japão e Coreia do Sul aparecem como novos mercados emergentes. O Rio Grande do Sul segue como líder absoluto, respondendo por mais de 80% do volume exportado, seguido de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. O estado gaúcho sozinho embarcou 3,09 milhões kg em 2025, com preço médio de US$ 2,09 /kg.

Na China, por exemplo, a erva-mate vem sendo incorporada em cafés, chás gelados, energéticos e bebidas saudáveis, associada à ideia de energia suave e bem-estar. Desde o ano de 2022, em que teve como uma das referências o evento da Copa do Mundo, e quando atletas como Lionel Messi foram vistos tomando mate, o interesse explodiu: o volume de buscas pelo termo “erva-mate” na plataforma chinesa Taobao aumentou em 320% no ano de 2023 em comparação ao período anterior ao grande evento. De lá pra cá, grandes redes de cafeterias chinesas lançaram linhas de bebidas com o uso da erva, mostrando que ela entrou de vez na cultura de consumo jovem e urbana.

E os números confirmam a tendência, visto que a Argentina exportou para a China cerca de 142 toneladas em 2024, e o Brasil, que enviava apenas 2,6 toneladas em 2022, já ultrapassou 63 toneladas em 2024, consolidando-se como segundo maior fornecedor. Essa expansão representa uma enorme oportunidade para o produtor rural brasileiro, especialmente os pequenos e médios. Afinal, a erva-mate é uma cultura adaptada ao Sul, com baixo impacto ambiental, boa rentabilidade e potencial de mercado crescente, principalmente se houver investimento em beneficiamento, melhora na qualidade e na rastreabilidade.

A Agricon Business, empresa disruptiva brasileira voltada à exportação de insumos e produtos agrícolas utilizando rastreabilidade, tem acompanhado de perto a expansão do mercado internacional da erva-mate. A companhia vem estudando diversas oportunidades e estratégias de comercialização e agregação de valor ao produto, especialmente com foco no mercado chinês e asiático como um todo. Essa movimentação reforça o papel da Agricon como um elo relevante de protagonismo entre produtores, indústrias e novos compradores internacionais, conectando o produtor rural às tendências globais de consumo sustentável. 

Fontes:

Erva 20: sistema de produção para erva-mate. – Portal Embrapa. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1106677/erva-20-sistema-de-producao-para-erva-mate>.

Informativo Roda de Mate. Disponível em: <https://www.agricultura.rs.gov.br/roda-de-mate>.

Gergelim: O “Ouro Branco” que Cresce 3.200% e Conquista a China

O gergelim (Sesamum indicum L.), da família Pedaliaceae, não é apenas uma das oleaginosas mais antigas do mundo; ele é a nova fronteira de[...]

Erva-mate: o Ouro verde do Sul que ganha o mundo

A erva-mate é um elemento essencial na cultura Brasileira, principalmente para a região Sul. Mas o que muitos produtores talvez ainda não saibam é[...]

Fosfato Bicálcico na Agricultura Brasileira

O fosfato bicálcico, conhecido na prática agrícola como DCP (dicálcico), é uma fonte de fósforo e cálcio de liberação gradual muito útil para quem[...]
en_USEnglish
Logo_footer-agricon